O DNS (Estabilização Neuromuscular Dinâmica)
- CinSis Saúde
- 14 de mai.
- 6 min de leitura

Temos observado em nossa clínica uma crescente demanda de clientes com dores e lesões osteomusculares devido a atividade física pouco orientada.
É indiscutível que precisamos nos exercitar para nos mantermos fortes e saudáveis à medida que envelhecemos. No entanto, uma incidência muito alta de dores e lesões – na coluna, nos ombros, nos quadris e joelhos – está afetando um grande número de pessoas – e essa é a principal razão pela qual as pessoas abandonam ou reduzem drasticamente a intensidade e/ou a frequência da prática de exercícios físicos. É interessante notar que isso está afetando especialmente as pessoas fisicamente ativas.
Consideremos uma importante questão: Por que será que exatamente as pessoas que procuram se exercitar com o objetivo de manter a saúde e as habilidades físicas estão mais predispostas a lesões?
O exercício aumenta a expectativa de vida, e reduz substancialmente a probabilidade de desenvolver doenças cardiovasculares e metabólicas, demências e câncer. Contudo, pelo fato de um indivíduo ativo estar mais exposto a eventos potencialmente inesperados, naturalmente o risco de lesão é mais alto. Então o que acontece é que algumas dessas pessoas, preocupadas com a saúde, acabam se machucando ou desenvolvendo dores em algum momento e não se recuperam totalmente ou adequadamente antes de retomar suas atividades. Em função disso, elas começam se movimentar de uma maneira disfuncional ou ‘compensatória’, o que pode provocar mais dor e novas lesões.
Ao sentir que a atividade provoca mais dor que bem-estar essas pessoas simplesmente param de se exercitar, ou pior, não conseguem mais realizar determinadas atividades ou engajar em práticas que envolvem participação social. Com isso, não retomam mais o padrão usual, ou um ‘padrão saudável’ de atividade física. Paulatinamente, suas habilidades e competências vão diminuindo.
Envelhecer praticando pouca ou nenhuma atividade física causa um grande dano não só à saúde, como também tende a trazer grandes comprometimentos à funcionalidade e à qualidade de vida. Além disso, como mencionado anteriormente, o sedentarismo é um dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, Alzheimer, além de aumentar imensamente a probabilidade de transtornos psiquiátricos como a depressão e a ansiedade.
Esse processo leva grande parte das pessoas a perderem a autonomia bem antes do final da vida. Se você quer viver mais e melhor, quer manter suas capacidades funcionais e se manter ativo e forte até uma idade avançada precisa aprender a como se exercitar de uma forma segura e inteligente.
Mas como fazer isso? Como não ficar exposto a lesões durante a atividade física?
Entendemos que um dos elementos chave para isso é a ‘estabilidade’.
Quando um paciente chega até a nossa clínica com um sintoma de dor ou alguma lesão, normalmente o fazemos interromper temporariamente no treinamento de força, pelo menos com cargas elevadas. Nosso primeiro passo é reprogramar os músculos responsáveis pela estabilização funcional – os músculos que compõem o core – ou o sistema central de estabilização. Realizamos uma série de testes funcionais para avaliar a função individual de cada músculo e como eles estão funcionando em conjunto. Uma vez que os músculos estejam funcionando adequadamente, em padrões de ativação coordenada, ensinamos os exercícios básicos de desenvolvimento do core.
Os que as pessoas mais querem quando iniciam um programa de atividade física são mudanças positivas na composição física, como ganho de força muscular, aumento da resistência cardiovascular, emagrecimento, etc. Entretanto, praticar exercícios – especialmente exercícios com peso – sem estabilidade suficiente é se expor ao risco de produzir uma lesão ou desenvolver algum sintoma de dor. A estabilidade é a base sobre a qual devem se assentar o ganho de força e resistência cardiovascular.
A estabilidade é essencial para qualquer tipo de movimento, especialmente se o nosso objetivo é poder realizar nossas atividades funcionais durante anos e décadas. Sem estabilidade isso não é possível. Portanto, ao invés de focar na força ou na resistência, o foco inicial de um programa de atividade física deve ser a estabilidade. Esse é o segredo do sucesso!
Portanto, se quisermos cumprir o propósito de nos mantermos ativos e funcionais até uma idade avançada, precisamos de ser capazes de antecipar e evitar qualquer lesão potencial, observando e respeitando nossos limites e, principalmente, cultivando a estabilidade. Para isso, precisamos entender o que é estabilidade e incorporar o treino estabilidade à nossa rotina de exercícios.
Infelizmente, a palavra estabilidade é muitas vezes confundida com termos estáticos como forte e equilibrado. No entanto, no contexto dos movimentos funcionais não interessa quão estática ou rígida é uma estrutura. Em vez disso, o que importa é as forças podem ser transmitidas através das estruturas corporais de um modo eficiente e seguro. A palavra-chave é segurança. Portanto, para realizar exercícios onde forças externas relativamente altas sejam aplicadas ao corpo, precisamos de uma boa estabilidade.
Para entender o que significa estabilidade temos que mudar a mentalidade em relação a como obter ganhos durante um programa de atividade física; sair da mentalidade de que devemos nos superar toda vez que vamos à academia treinar, fazendo o maior número possível de repetições, com pesos cada vez mais pesados. Se você está “lutando para terminar o treino”, se esforçando demais, o seu corpo provavelmente está recorrendo a “truques”, a padrões de compensação muscular disfuncionais e potencialmente perigosos.
Fazer treinos pesados, esforçar-se muito e o tempo todo sem uma estabilidade adequada, quase inevitavelmente leva a lesões. Ao focar na estabilidade passamos a cultivar padrões de movimento mais funcionais e seguros, permitindo que nossos músculos se adaptem às cargas exigidas pelos exercícios e transmitindo as forças de uma maneira adequada. É melhor trabalhar de forma inteligente do que trabalhar demais.
Muitas vezes, o treino de estabilidade é confundido com fortalecer os músculos do abdome. No entanto, treinar o core não significa desenvolver um abdome enrijecido. Isso é um engano comum. Ter estabilidade é muito mais do que ter músculos abdominais fortes. É ser capaz de ajustar dinamicamente a força dos músculos que compõe o core às demandas das forças externas aplicadas ao corpo.
Estabilidade é a capacidade de aproveitar, interromper ou desacelerar essas forças sem deixar que a coluna, ou qualquer outra articulação vulnerável, sofra trações ou compressões excessivas. Do ponto de vista do cérebro, essa é uma atividade organizada no nível subcortical do sistema nervoso central (SNC), o que corresponde a dizer que ela é uma atividade subconsciente. Uma pessoa estável pode reagir a estímulos internos ou externos, ajustando a posição e a tensão muscular de forma automática, sem necessidade de planejamento consciente.
Então como treinar a estabilidade?
Apresentamos o DNS!
Na nossa clínica trabalhamos com uma abordagem de correção e treinamento da estabilidade chamado DNS. Abreviação de Dynamic Neuromuscular Stabilization (DNS), ou Estabilização Neuromuscular Dinâmica, o método DNS pode parecer complicado à primeira vista, mas ele se baseia num princípio muito simples. Todo o processo envolvido com o controle postural, o equilíbrio e a estabilização dinâmica se organiza no nível subcortical do SNC e foi estruturado individualmente durante a primeira infância, especialmente entre os três e os dezesseis meses de vida. Assim, para restaurar os padrões básicos de estabilização devemos buscar as memórias dos movimentos mais simples e naturais que já fizemos: a forma como nos movíamos quando éramos bebês.
A teoria por trás do DNS é que a sequência de movimentos que as crianças pequenas realizam no seu desenvolvimento até aprender a andar de um modo autônomo não é aleatória ou acidental, mas parte de uma programação neuromuscular que é essencial para a nossa capacidade de nos locomovermos corretamente. À medida que experienciamos essa sequência de movimentos, nosso cérebro aprende como controlar o sistema muscular e realizar padrões coordenados de movimento.
O DNS surgiu com um grupo de neurologistas tchecos que trabalhavam com crianças paralisia cerebral em um hospital em Praga na década de 1960. Eles haviam observado que, devido à doença, essas crianças não passavam pelos estágios normais do desenvolvimento infantil, como rolar, arrastar, engatinhar e assim por diante. Em função disso, essas crianças apresentavam problemas de movimento ao longo da vida. Mas quando eram submetidas a um programa de “treinamento” onde realizavam certas sequência de movimentos, reproduzindo os estágios habituais de desenvolvimento, seus sintomas melhoraram e elas foram mais capazes de controlar seus movimentos à medida que amadureciam.
Os pioneiros do DNS perceberam também que, à medida que crescemos, a maioria dos adultos passa por um processo oposto – esses padrões de movimento naturais, espontâneos e saudáveis vão sendo perdidos e muitos padrões disfuncionais vão se estruturando. O objetivo do DNS é treinar novamente nossos corpos – e nossos cérebros – nos padrões de movimento perfeitos que desenvolvemos e realizamos quando crianças.
Comments